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A Afrodite de Hesiodo

  • Foto do escritor: Valetius
    Valetius
  • 22 de abr. de 2023
  • 7 min de leitura

Atualizado: 26 de jan.


Sobre a história de Afrodite e as reflexões que podemos ter a partir de sua existência


Há duas versões para o mito do nascimento de Afrodite: a primeira apresenta Afrodite como filha de Zeus e Dione; a outra, mais famosa, afirma que ela nasceu da espuma do mar (Urano).

Por ordem cronológica, o primeiro a escrever sobre o nascimento da deusa foi Homero. E, como considero Homero o pai da mitologia grega, acredito que o correto seria dizer que Afrodite nasceu de Dione, não de Urano. Tenho um motivo muito plausível para aceitar essa versão do mito.

Vejam, é muito simples. Poetas e escritores, por todos os meios, sempre classificaram Zeus como o maior galanteador ou predador sexual do cosmos. Sendo assim, nem mesmo suas irmãs escapavam de seus desejos lascivos. Vale lembrar que Deméter e Hera foram tomadas por Zeus. O rei olimpiano possuiu as mais belas deusas e mortais, menos Afrodite.


Curioso, não? Só há um motivo para isso: Afrodite é filha de Zeus. Zeus nunca possuiu suas filhas, como Atena ou as próprias Musas. Quando a mais bela das deusas e deusa dos prazeres apareceu no Olimpo, todos os deuses ficaram fascinados e murmuraram entre si o desejo de tê-la. Por que Zeus, que possuía todas, não esteve com Afrodite? Lembrando que, sempre que um deus se deita com uma deusa ou mortal, dessa relação sempre nasce um filho. Não há relatos de filhos de Zeus e Afrodite, nem de Zeus e Atena, ou de Zeus e suas outras filhas.


Esse efeito geral, em que as pessoas abraçavam com convicção o nascimento de Afrodite a partir da espuma do mar, deve-se às várias representações artísticas da deusa emergindo da espuma ou da concha, acompanhada pela constelação de Peixes. É magnífico como a arte pode ser tão poderosa a ponto de praticamente enterrar uma outra vertente da história. Lembrando que, sendo filha de Urano, isso tornaria Afrodite uma Titã de primeira geração (Urano, o Céu, é um primordial que formou as engrenagens do planeta).


Mas, como sempre digo: aqui não abordamos apenas um mito ou outro, tampouco tomamos algo como verdade incontestável. Apenas mostro, com base em meus pensamentos, a linha de raciocínio mais adequada ao meu ver. Seguimos, então, destrinchando mais um pouco da grande Afrodite!


A Afrodite de Hesíodo


Hesíodo foi o segundo a escrever sobre a deusa, após Homero. Ele afirmou que ela nasceu das genitálias de Urano. Vamos analisar um pouco o nascimento dela e, em seguida, nos desprender disso para fazer uma visão geral sobre a deusa. Ignoraremos seu nascimento em certo ponto e falaremos exclusivamente de sua essência.


Urano (Titã que representa o Céu) veio trazendo a noite e a saudade de amor, e ele se deitou sobre Gaia (a Terra), espalhando-se sobre ela. Então, sob instruções de Gaia, Cronos (Titã do tempo) armou uma emboscada, segurando as genitálias de seu pai e as cortando com a foice especial que fora feita por Nyx (primordial da noite). Assim, ele cortou os membros e os lançou da terra para o mar revolto, onde ficaram por certo tempo.


Uma espuma branca espalhou-se ao redor das genitálias no mar e, a partir da carne imortal, nasceu e cresceu uma donzela. Surgia uma deusa terrível em poder e adorável em presença. Chamou-se Afrodite, e Aphrogeneia (a nascida da espuma), porque ela cresceu em meio à espuma.

Alguns mitos relatam que dois peixes auxiliaram no nascimento dessa deusa e, futuramente, foram colocados no céu como a constelação de Peixes.


Uma curiosidade é que Afrodite não foi a primeira divindade do amor. Relata-se que, na criação do universo, Caos deu à luz Eros, o primordial do desejo sexual (para muitos, amor), pois, a partir de sua influência, novas divindades nasceram.


Afrodite veio a ser a deusa — ou deusa-Titã — do amor, pois nasceu da saudade de amor que Urano sentia de Gaia. Ela se assentaria ao trono dos olimpianos futuramente, tendo vários filhos relacionados à esfera do amor e do desejo.


Todo esse conto tem embasamento na mitologia antiga, sendo retratado a partir do texto do famoso poeta grego Hesíodo:


"Urano (Titã que representa o Céu) veio trazendo a noite e a saudade de amor, e ele se deitou sobre Gaia (a Terra), espalhando-se sobre ela. Então, sob instruções de Gaia, Cronos (Titã do tempo) armou uma emboscada, segurando as genitálias de seu pai e as cortando com a foice especial que fora feita por Nyx (primordial da noite). Assim, ele cortou os membros e os lançou da terra para o mar revolto, onde ficaram por certo tempo.Uma espuma branca espalhou-se ao redor das genitálias no mar e, a partir da carne imortal, nasceu e cresceu uma donzela. Surgia uma deusa terrível em poder e adorável em presença. Chamou-se Afrodite, e Aphrogeneia (a nascida da espuma), porque ela cresceu em meio à espuma."


Nos desprendendo de Hesíodo...


Afrodite e sua influência mitológica


Afrodite está envolvida em várias passagens mitológicas, como seu casamento conturbado com Hefesto, sua traição com Ares e seu papel crucial no Julgamento de Paris, que desencadeou a Guerra de Troia. Essas histórias refletem como a deusa do amor, embora bela e desejável, também era uma força de caos e mudança.


Afrodite e sua influência mitológica


Afrodite está envolvida em várias passagens mitológicas. Uma delas reflete seu casamento conturbado com Hefesto, que resultou no caso de adultério com Ares.

A história do casamento de Hefesto e Afrodite pode ser reconstruída a partir de fragmentos de textos e pinturas em vasos da Grécia Antiga, como o Vaso François.


Hefesto havia sido lançado do céu por sua mãe, Hera, ao nascer, pois ela tinha vergonha de ter um filho coxo (com deficiência física). Ele foi resgatado por Tétis e Eurínome (divindades marítimas) e criado em uma caverna nas margens do rio Oceano, onde se tornou um ferreiro habilidoso. Furioso com o tratamento recebido por sua mãe, Hefesto enviou vários presentes ao Olimpo, incluindo um trono de ouro para Hera.


Quando a deusa se sentou nesse trono amaldiçoado, foi presa com força. Zeus buscou a ajuda dos deuses para libertar sua rainha e ofereceu a deusa Afrodite em casamento ao deus que conseguisse libertá-la. Afrodite concordou com o acordo, acreditando que seu amado Ares prevaleceria na disputa.

Ares invadiu a forja de Hefesto, portando armas, mas foi derrotado pelo Ferreiro Divino com chuvas de metal em chamas.


O deus Hefesto, satisfeito, libertou Hera e casou-se com Afrodite, que estava relutante, pois desejava que Ares tivesse vencido o confronto.


Hefesto, um dia, se afastou do Monte Olimpo para trabalhar em suas forjas. Durante esse período, Ares voltou de suas batalhas, e Afrodite, com desejo, se deitou com o deus da guerra no Olimpo. Porém, ambos não contavam que Hélios (o Sol) contaria a Hefesto sobre o caso de traição. Irritado com a notícia, Hefesto armou uma emboscada com correntes para prender os traidores. Assim o fez: Ares e Afrodite foram acorrentados em meio ao ato. Hefesto chamou os deuses do Olimpo para testemunharem a cena e envergonhar ambas as divindades.


Afrodite teve alguns filhos com Ares. A união do deus da guerra com a deusa do amor gerou os gêmeos Fobos e Deimos (Medo e Terror) e Harmonia (deusa da paz).

Futuramente, Afrodite se separaria de Hefesto, e o deus se casaria com Aglaia, uma deusa menor da beleza e esplendor, filha de Zeus.


Um pensamento do autor

Desde os tempos antigos, os gregos já faziam, por meio de suas crenças, referência aos casamentos forçados ou arranjados. Podemos especular que esses mitos tentavam mostrar que tais uniões nem sempre prosperavam. Zeus temeu deixar Afrodite livre (solteira), pois isso geraria contenda. Contudo, ao prendê-la em um casamento, ele provocou a ridicularização dos deuses ao testemunharem um adultério exposto.

Afrodite estava presa na armadilha de Hefesto com Ares, mas as verdadeiras correntes eram o amor falso que ela precisava sustentar. O amor não pode ser acorrentado, pois ele é livre para tomar suas decisões.

Apenas o verdadeiro amor é capaz de parar e seduzir até mesmo uma guerra. (Ares)


O quão poderosa é a influência de Afrodite?


Afrodite e o julgamento de Paris


Os deuses estavam presentes no casamento da ninfa Tétis com Peleu, um mortal. Éris, a divindade que não fora convidada por ser a própria Discórdia, lançou um pomo de ouro à mesa onde estavam assentadas três deusas olímpicas. No pomo estava escrito: "Para a mais bela".

Atena, Afrodite e Hera logo estenderam a mão.


Do rumor de um conflito iminente que percorreu a assembleia, elevaram-se sucessivamente os três nomes, mas ninguém quis correr o risco de dar a última palavra e provocar a cólera das deusas. Mesmo que a graça de Afrodite prevalecesse, o brilho de Hera e a majestade de Atena impediam os deuses de lhe conceder o prêmio. Éris, no meio da multidão, sugeriu:


"Somente um homem que não as conheça saberá escolher. É necessário um olhar novo e um espírito virgem. As três devem comparecer juntas diante de Páris, um jovem pastor que ainda não sabe que é filho do rei Príamo. Ele passa os dias nas montanhas pastoreando suas ovelhas. Deixem-no julgar."

Guiadas por Hermes, as três deusas foram ao encontro do jovem para convencê-lo. Cada uma delas se cobriu com seus mais lindos adornos e, uma após a outra, fizeram promessas tentadoras.


  • Hera: "Você está destinado a subir ao trono de Troia. Se me escolher, prometo-lhe o domínio de toda a Ásia."

  • Atena, a deusa da sabedoria: "O poder sem sabedoria não é nada. Em troca do pomo, ofereço-lhe as artes políticas e militares que lhe permitirão reinar e conquistar cidades."

  • Afrodite foi a última a falar: "Você é belo, Páris, e seria justo que obtivesse o amor da mais bela de todas as mulheres. Escolha-me, e eu lhe darei Helena."


Apesar da impressão que cada uma produziu no rapaz, as últimas palavras de Afrodite tocaram profundamente seu coração. Correspondendo ao desejo que a deusa fizera nascer nele, Páris disse: "Belas damas, vocês três são tão majestosas e tão divinas que não têm o que invejar uma da outra. Mas, à força e à glória, prefiro o amor."


Com isso, ele ganhou a gratidão de Afrodite, mas causou uma guerra entre deuses e mortais que duraria dez anos.


Enfim, o amor.

Inspirado em: Hesíodo, Teogonia 176 ff (tradução do inglês por Evelyn-White, épico grego, século VIII ou VII a.C.)


Texto por: Valetius

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Conteúdo de propriedade intelectual do autor avisamos que o mesmo está registrado na biblioteca nacional, caso haja plagio o mesmo será investigado e acionado na justiça sob multa por apropriação indevida e plagio.

 
 
 

1 Comment


Rodrigo Alves de Oliveira
Jan 24

"Ah ele nunca possuiu as próprias filhas." E quanto a Perséfone? E quanto a Alcmena- que era bisneta dele?

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